Psicoterapia: Um Profundo Caso de Amor – Psicologia Corporal

Psicoterapia: Um Profundo Caso de Amor

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A Psicoterapia é um encontro. Um encontro sagrado e único onde muito pode acontecer. É um encontro profundo entre duas pessoas, que não tem nada a ver com hipóteses diagnósticas, psicodinâmica ou determinadas técnicas – embora utilizemos muitas delas -,  mas tem algo a ver com o amor.

Mas o que vem a ser um Terapeuta:

No meu modo de ver, o que  faz de uma pessoa  um terapeuta não é apenas a sua quantidade de conhecimento acumulado, de técnicas e linhas de procedimento psicoterapêutico, de formações e graduações, etc.

Muito embora,  toda essa conquista é imprescindível, e será de imensa ajuda e valor.

Pra mim o verdadeiro terapeuta é batizado no seu templo interior,  e é erguido pela sua vontade de ser inteiro.

É movido por essa vontade que é muito maior que o seus próprios desejos. A vontade da inteireza e da plenitude.

Um verdadeiro cavaleiro em busca do Santo Graal!

Tomado de ardor e paixão pela vida, “levanta-se para a batalha que começa e embora muito lute,  não seja você o Guerreiro. Deixa o Guerreiro guerrear em você!”  Luz no Caminho – Mabel Collins.

Permitir que o Guerreiro em nós faça tudo através de nós: permitir que Ele cure; permitir que Ele ame;  não é uma tarefa simples, requer um esvaziamento da personalidade da sua volição própria. Requer maturidade.

E maturidade não se aprende em livros, nem se alcança através de técnicas. Chega-se à maturidade através de uma profunda experimentação da vida,  com toda a sua inteireza.

Quando o terapeuta está maduro e montado no seu “touro do positivo”, as forças cristalinas da criatividade da vida começam a atuar através dele.

Mas somente podemos começar passo a passo. E o primeiro passo é aprender a escutar e a amar a si mesmo.  

É preciso escutar e amar o positivo e o negativo em nós. A luz e a sombra. Tendo dado esse passo com consciência o próprio ho’oponopono passa a lhe seguir como uma sombra no seu mister. Quando você menos esperar, lá está uma voz interior curando o seu próprio sentido pessoal de existir: sentindo muito, perdoando, amando, agradecendo e sobretudo compreendendo e aceitando a falta, a divisão, o limite, o erro, a ilusão… focando e fortalecendo o sentido positivo da vida e enchendo de luz o espaço interior e o espaço exterior.

E se você der o seu passo, poderá segurar a mão do outro e caminharem juntos por um período de tempo.

Como escreveu o Psicoterapeuta Roberto Crema no seu livro “Saúde e Plenitude – Um caminho para o Ser”:  “Psicoterapia precisa de um espaço de pesquisa e de encontro com a sombra e com a luz, com a dor e com a plenitude. Focalizar apenas o lado sombrio e as situações inacabadas é uma abordagem não apenas reducionista como também niilista e, frequentemente iatrogênica. A aliança terapêutica precisa ser com a luz, com o que nunca adoece, com o Sopro que nos inspira e habita”

Focar na falta e no trauma é andar em círculos.  É preciso resgatar o positivo das experiências traumáticas, resignificando-as. Assim se pode caminhar.

E por falar em resignificar:  “…então a terapia é sem dúvida a arte da interpretação”, como disse Jean-Yves Leloup no seu livro sobre os terapeutas de Alexandria. E que a pior dor para o ser humano, é aquela esvaziada de sentido.

É preciso dar-nos um novo sentido, a cada momento.  É necessário sermos apresentados a nós mesmos a todo instante, até nos familiarizarmos com o Ser,  pois ainda somos um estranho aqui!

É o mistério da criação: o Ser: tão íntimo, tão alheio; tão perto, tão longe…

Por isso necessitamos do outro nos apresentando a nós mesmo a todo o instante. Do contrário a gente se esquece. Não foi a nossa própria mãe que nos apresentou a nós mesmos? Lacan apontou a importância desse momento na constituição do sujeito, na fase que denominou de Estádio do Espelho. 

Vamos falar um pouco agora sobre a aliança terapêutica.

Por ser um relacionamento profundo,  o processo terapêutico pode passar por inúmeros momentos e fases, com dificuldades, superações, avanços, estagnações, regressões, bem como alegrias, picos de compreensão e belos insights.

Há tempos recebi no meu consultório, no Espaço Vigor, uma pessoa queixando-se de muita ansiedade, insônia e frustração afetiva.

À princípio, comecei a me sentir meio aborrecido e sonolento, confesso, com o discurso infantil e repetitivo da cliente.  Muitas vezes era acometido de forte vontade de dormir, e me via lutando contra bocejos sucessivos.

Era como um movimento anorgonótico que saía da região do meu diafragma e expandia-se pelo meu corpo como uma anestesia. Provavelmente estava reagindo a algum conteúdo em mim, tentando cortar o contato e inibir a capacidade de ação.

Em outro momento, senti como se tivesse perdido “as rédeas” do processo terapêutico. Foi quando a paciente e eu adentramos numa floresta escura, sem marcos, sem insights, sem direção.

Esse período foi marcado por uma angústia flutuante e subjacente que comecei a sentir na altura do diafragma, e insegurança.

Talvez estivesse com resistência de contatar com os resquícios da minha própria esquizoidia e com medo de confrontar com as minhas questões de abuso.

Cheguei mesmo a pensar a encaminhar o caso à minha esposa.

Parecia que ambos, a cliente e eu, precisávamos contatar com algo da nossa psique, e que dependíamos do nosso campo terapêutico relacional para encontrarmos essa porta.

Se eu ou ela não déssemos esse passo, a terapia correria o risco de ficar girando em círculos ou se interromperia.

Sentia como uma pressão que aumentava a cada encontro.

E foi justamente, semanas depois,  numa determinada sessão, que houve uma tomada de consciência. O medo que tínhamos de abordar certos assuntos mais abertamente, caiu por terra.

Da minha parte, era possível que subestimava a cliente como pessoa muito infantil e frágil e provavelmente da parte dela por me colocar numa posição de uma autoridade distante e inatingível.

O fato é que na referida sessão houve um clarão onde “tudo” foi  expresso, aparentemente sem barreiras. Houve uma compreensão, naturalmente, e uma sensação que a terapia tomaria um novo rumo a partir dali.

Saímos da floresta escura e retomamos o caminho.

Deixei  essa sessão com a sensação de existir uma aura de luz ao meu redor e com a percepção de um centramento que me mantinha ereto e atento a mim mesmo e a tudo a minha volta. Essa sensação de bem estar durou cerca de dois dias e foi absorvida e integrada à percepção.

Após essa sessão de luz, todas as outras que se sucederam foram ricas em conteúdos e expressão, que emergiam espontaneamente com muita vitalidade.

Narrei esses episódios para mostrar como estamos juntos, fundidos nessa aliança, caminhamos juntos.  E obviamente não é um processo psicótico de perda dos limites, e  tampouco simbiótico de dependência. É um compartilhar consciente, confiante e amoroso, rumo ao íntimo, ao infinito que nos ronda.

Em virtude desse experimentar mútuo e contínuo de um relação terapêutica,  sugiro abandonar o nome de cliente  ou paciente, para parceira ou parceiro em terapia, tendo em vista que compomos juntos um campo dinâmico bi direcionado de uma muita troca.

Afinal, é uma grande parceria, onde muito pode acontecer, mas que muitas vezes não haverá uma posição definida entre a figura que representa o terapeuta e a que representa a paciente.

Uma das bases do pensamento funcional de Reich é que a realidade é movimento puro. Pura energia orgônica em movimento. Acredito que, se aos poucos aprofundarmos essa compreensão na clínica vamos ter que dispor da posição fixa e congelada do terapeuta (como o conhecedor que vai ajudar) e do paciente (aquele que não sabe e precisa de ajuda).

Na vivência clínica e no meu constante experienciar,  pude obter alguns insights sobre essa questão.

Parece que qualquer tentativa de se fixar vem de uma necessidade que temos de encouraçar a existência em papéis pré determinados,  indo, portanto, de encontro ao princípio básico do movimento puro. Talvez agirmos dessa forma para obtermos uma falsa sensação de segurança.

“Terapia é basicamente meditação e amor, porque sem amor e meditação não é possível haver cura.  Quando o terapêuta e o paciente não são dois, quando o terapêuta não é só um terapêuta e quando o paciente não é mais um paciente, mas um profundo relacionamento Eu-Outro surge onde o terapêuta não está tentando tratar a pessoa, quando o paciente não está olhando para o terapêuta como separado de si mesmo — nesses raros momentos, a terapia acontece.” Osho

“Em outras palavras, o que eu estou dizendo é um conceito totalmente novo de terapia. O terapeuta é somente um facilitador. Ele só tenta fazer o contato mais silencioso, mais sereno; ele dá uma olhada para que nada dê errado… é mais um guardião do que um mestre. E você tem que tornar isto claro também:”

Tenho procurado me sintonizar com essa compreensão no campo terapêutico com  todos os meu clientes, ou melhor, parceiros. É como se por alguns momentos me esquecesse de todas as hipóteses diagnósticas e quaisquer outros conhecimentos e técnicas psicoterapêuticas, em prol de uma conexão única sob um estado de não saber.

Mas na verdade, sinto que isso só é possível se estou estudando e me dedicando com afinco à técnica e ao conhecimento.

Acho que o Professor de Filosofia e Mestre Espiritual Osho descreve magistralmente esse abençoado processo, quando diz: “Eu estou também aprendendo enquanto estou buscando compartilhar a minha experiência. Quando eu estou escutando vocês, não é somente os seus problemas, eles são meus problemas também. E quando eu estou dizendo alguma coisa, eu não estou somente dizendo a você, eu estou escutando também.”

Nessa interconexão e sob essa ignorância, muita coisa pode acontecer.

Muita coisa pode acontecer mesmo para além da relação sujeito e objeto, como se ocorresse a aparição de um “terceiro olho”, ou um “terceiro fator”, presença condutora e atuante ao longo da sessão e de todo o processo terapêutico.

Talvez o que Reich chamou de “princípio funcional comum” pudesse se estabelecer através dessa relação do terapeuta com a paciente, os quais formariam um par funcional, e gerariam o surgimento do ‘terceiro fator”: a terapia, a cura.

Sob o ponto de vista da Meditação, poderíamos dizer que esse “terceiro fator” é a “testemunha silenciosa” ou a “Consciência”.

Aparentemente, a técnica  para se estabelecer esse par funcional e extrair o princípio funcional comum é muito simples. Primeiramente levamos toda a nossa atenção para a pessoa sentada a nossa frente. Depois nos sintonizamos com o nosso próprio observar, ou seja, continuando a observar a pessoa, passamos também a perceber o nosso próprio observar da pessoa. Percebemos a nós mesmo observando a pessoa. E o “terceiro fator” aparece naturalmente no relaxamento dessa percepção. O resto é confiar na vida e no processo de cura e se permitir abandonar-se nesse canal.

A cura reside no contato e na compreensão da realidade íntima que habita todos nós.

Por isso, para mim a clínica tem sido fascinante e tremendamente excitante. Ela se converte num processo infinito de desencouraçamento até as suas últimas conseqüências, podendo transcender aos conceitos de separação e limite entre sujeito e objeto,  paulatinamente aprendidos desde as fases da tenra infância.

Ou seja, um processo de autoconhecimento, e, sobretudo, um profundo caso de amor.

Alexandre J. Paiva
Alexandre J. Paiva
Psicólogo CRP 5/49933 Especializado em Psicoterapia Corporal com atendimento clínico (PRESENCIAL ou via SKYPE) sob a vertente de Wilhelm Reich. Trabalha orientado também pela visão da Experiência Somática de Peter Levine.

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