A Síndrome de Burnout nos Atletas – Psicologia Corporal

A Síndrome de Burnout nos Atletas

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Podemos partir do pressuposto que um determinado nível de stress é necessário para um bom desempenho numa atividade esportiva (VERARDI, e outros 2011).

O organismo humano precisa estar funcionando sob uma determinada carga de hormônios, acima daquela normalmente utilizada no seu cotidiano – salvo em situações limítrofes -, para obter um bom rendimento e uma boa performance numa competição ou num treino.

Porém, essa carga não pode ultrapassar os limites que o organismo se auto-impõe para dar conta dessa excitação, desse “envenenamento”.

Há tempos, era muito comum se “envenenar” os motores dos carros que participavam de corridas. Os carros mais “envenenados” eram os que tinham mais chances de vencer.

De certa maneira, “envenenamos” o organismo do atleta com excesso de horas de treinamento e pressão psicológica. Associados à falta de apoio social e suporte, ansiedade de rendimento, queda da autoestima, pessimismo, e exposição prolongada a esses e outros fatores estressores, chega-se a um ponto em que a sua homeostase fica ameaçada. Nesse caso, as tentativas de enfrentamento e adaptação às pressões internas e externas, podem falhar, e o indivíduo começar a não mais dar conta da intensidade do stress.

Nesse momento, há toda uma possibilidade de iniciar a instalação de um quadro de sintomas peculiares, que poderá ser diagnosticado como a Síndrome de Burnout, no caso, obviamente, relacionada ao contexto esportivo. Temos aí um quadro de exaustão ligado diretamente ao contexto profissional, ao trabalho esportivo.

Em geral, após um ciclo de treinamento intensivo, onde o atleta é submetido à carga de esforço próxima a sua linha limítrofe de suportabilidade, acompanha-se um quadro de exaustão e de baixo rendimento.

A Síndrome de Burnout pressupõe uma resposta mais aguda, de dimensão psicofisiológica, e que se não tratada a tempo, pode levar à desistência do atleta de sua vida profissional.

Desde o início do século passado, mais precisamente a partir da década de 20, inúmeros estudos intencionavam identificar o grau de satisfação do trabalhador na sua empresa (VASCONCELOS, 2001). Sua qualidade de vida, saúde física e psicológica, condições de trabalho, tempo para repouso e para estar com a família, etc.

Com relação ao atleta profissional, as preocupações são as mesmas, com o agravante da balança entre a busca pela excelência física, técnica, tática e psicológica, em contrapartida ao desgaste, envelhecimento precoce, lesões, etc. Se a balança tende para esse lado, ou seja, para o lado negativo, o problema é a interrupção prematura das atividades da vida profissional do atleta (VERARDI, e outros 2011).

Na verdade, problema maior, seria a interrupção prematura das atividades de qualidade da vida daquela pessoa.

Mas, tanto em outros tipos de trabalho como nos esportes, o burnout é semelhante, pois reflete o tipo de resposta de cada indivíduo às pressões e situações estressoras, por tempo prolongado.

A enfermagem aparece como uma das profissões com mais incidência de casos. O enfermeiro lida diretamente com outra pessoa, em geral debilitada, muitas vezes em situações irreversíveis. Ele é obrigado a lidar constantemente com a frustração e limitação dos seus esforços.

No esporte, temos o imperativo de ser o primeiro. O segundo ou terceiro lugar é como se não existissem. Ninguém houve falar deles. Também nesse caso os esforços são por deveras frustados. Mas quem disse que o primeiro lugar pode repousar no seu triunfo? Mais responsabilidades, mais metas, mais esforços serão necessários para se manter esse lugar.

Como lidar, de uma forma saudável, com o imperativo de ser o primeiro, sempre? De simplesmente ter que ganhar?

A síndrome da exaustão no trabalho do atleta aponta, muitas vezes, para a relação entre uma fadiga psicofisiológica intensa, e um objetivo inatingível – ou atingível por muito poucos. Como consequência, experimenta-se um senso reduzido de autorrealização, desvalorização e desinteresse pelo esporte (VERARDI, e outros 2011).

Muitos outros fatores permeiam a relação acima mencionada: esgotamento e fadiga X objetivo inatingível. A auto-exigência e o rigor crítico voltado para si mesmo, reflete um sentimento perfeccionista que esgota o atleta, em busca de performances cada vez melhores. Esse mesmo perfeccionismo direcionado para fora, encontra na relação com o outro, o imperativo do preenchimento da expectativa, ou seja, “não posso decepcionar meu técnico, a instituição para qual trabalho, minha família, meus amigos, minha torcida, minha nação…”, e vai por ai adiante. Tudo isso pesa sobremaneira sobre os ombros do indivíduo e aumenta a sua vulnerabilidade (VERARDI, e outros 2011).

O fato é que o burnout relacionado à atividade esportiva apresenta um caráter multifatorial, e vai depender, e muito, da forma que o organismo daquela pessoa em particular, respondeu aos estímulos estressores, internos e externos. Muitas pessoas abandonam as atividades esportivas profissionais e entre os motivos pode não estar a síndrome do burnout. Para que essa se configure, há fatores estressantes que incitam respostas de forte exaustão, fadiga, acompanhadas de traumas psicológicos e sentimentos aversivos em relação ao esporte.

Portanto, há uma proeminente necessidade de se criar mais programas preventivos e de intervenção no intuito de se amenizar os efeitos do stress e da síndrome de burnout. Melhores planejamentos que visem poupar os excessos dos treinamentos e das competições. Acompanhamento e treinamento psicológico para melhor adequar psicologicamente os atletas às demandas exigidas e também, de forma preventiva, ajudar a detectar os primeiros sinais de esgotamento psicofísico. Também se faz necessário rever os limites de idade para o início das práticas esportivas, para não se cair nos efeitos nocivos da especialização precoce. Segundo Ramos e Neves, não se pode dar a uma criança de sete anos o mesmo tipo de treinamento que se oferece a um adolescente (Ramos e Neves, 2008). Naquela idade, o organismo não está maduro suficiente, nem no seu desenvolvimento motor, nem psicossociologicamente, para suportar o excesso de exercícios físicos e pressões para uma especialização e competitividade.

Alexandre J. Paiva
Alexandre J. Paiva
Psicólogo CRP 5/49933 Especializado em Psicoterapia Corporal com atendimento clínico (PRESENCIAL ou via SKYPE) sob a vertente de Wilhelm Reich. Trabalha orientado também pela visão da Experiência Somática de Peter Levine.

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